FÉLIX CHAVES
TUDO VALE A PENA, SE A ALMA NÃO É PEQUENA
Textos
O Desapego do Eu

Nunca entendi bem esse apego às versões antigas de nós mesmos. Há quem guarde lembranças como troféus de um campeonato que ninguém mais lembra. Um álbum de fotos, cartas amareladas, um diário trancado a sete chaves. Tudo isso me soa como tentar manter viva uma planta que já secou — uma insistência em regar o que já não floresce.
Eu, por mim, não tenho saudade de mim. O que já fui não mais me interessa. Não é desdém, muito menos desprezo. É só que o passado, para mim, é um filme que já saiu de cartaz.
Talvez tenha sido a vida que me ensinou a desapegar. A cada curva, ela me mostrou que segurar o que já foi é como carregar malas numa estrada que exige mãos livres. Troquei minha antiga teimosia por uma leveza quase subversiva: o direito de esquecer quem eu fui.
Não que meu passado tenha sido ruim. Pelo contrário, há momentos bonitos, histórias engraçadas, conquistas que um dia me fizeram vibrar.
Mas eu não sou mais aquela pessoa. E seria um erro esperar que o hoje me coubesse nas roupas de ontem.
Gosto de pensar que somos como rios: a água que corre nunca é a mesma, e o destino é sempre o mar. O que ficou para trás não se perde, mas também não se estagna. É parte da jornada, mas não é mais a paisagem.
Assim, sigo. Sem retratos nas paredes, sem raízes sufocantes. Apenas com o vento nas costas e a liberdade de ser  quem sou.
Felix Chaves
Enviado por Felix Chaves em 12/12/2024
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