FÉLIX CHAVES
TUDO VALE A PENA, SE A ALMA NÃO É PEQUENA
Textos
O Violão e a Vida

Há dias em que o mundo parece pesar mais. Acordo como pão sem manteiga, o jornal manchado de sangue e uma lista interminável de absurdos que insistem em se repetir, como se o tempo fosse um disco riscado. É o cotidiano no seu mais cruel detalhe, desprovido de qualquer poesia. Nessas horas, olho para o violão encostado no canto da sala. Ele não resolve nada, mas também não cobra respostas. É minha trégua silenciosa.
Ainda assim, há algo de reconfortante no som do violão, mesmo quando as cordas estão desafinadas.
A tarde chega, e a rotina ganha tons mais prosaicos.
Um bilhete da Mega Sena , preenchido com esperança quase cômica, e por um instante, imagino que talvez as coisas possam melhorar.
Quem sabe um dia a sorte resolve bater à porta. É bom sonhar, ainda que de forma ingênua, porque rir à toa é um luxo que custa nada.
Mas chega a noite, e com ela, o porre de sábado. É quando me permito soluções fenomenais, ideias grandiosas que sempre desmoronam ao primeiro raio de sol. O dia nasce, e ele, sem cerimônia, desfaz qualquer milagre noturno.
As histórias são sempre as mesmas; só os cenários mudam.
E então,
no fim, me restam as cordas do meu violão. É a lembrança de que, apesar de tudo, há algo que posso tocar, algo que me escuta . Ele não resolve, não explica, mas também não precisa.
E assim, entre um acorde e outro, a vida segue.
E  como dizia Vinicius de Moraes : “Não tem nada, não. Tenho o meu  violão “
Felix Chaves
Enviado por Felix Chaves em 07/12/2024
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