FÉLIX CHAVES
TUDO VALE A PENA, SE A ALMA NÃO É PEQUENA
Textos
Transamazonica : Anos 70/80 - TransAmargura


A estrada é longa , um caminho que corta o coração da Amazônia .
Transamazônica, imponente em seu nome, mas traiçoeira em suas promessas, revela-se um desafio constante para os moradores de Marabá, especialmente durante a estação das chuvas.
As primeiras gotas de chuva são recebidas com uma mistura de alívio e apreensão.
O calor sufocante dá lugar a um frescor temporário, mas a alegria é breve.
As nuvens se adensam, e logo a chuva se transforma em um dilúvio. A terra seca e rachada absorve a água com avidez, não tarda para que se transforme em um mar de lama.
Os atoleiros surgem como monstros adormecidos, prontos para engolir qualquer um que se atreva a desafiá-los.
Os moradores de Marabá , conhecem bem esses monstros. As caminhonetes e caminhões, tão robustos em dias secos, tornam-se presas fáceis da lama traiçoeira. O barulho dos motores lutando contra o barro, os gritos de encorajamento, e a força de braços que se unem para empurrar os veículos atolados, formam uma sinfonia peculiar. Cada jornada pela Transamazônica em época de chuvas é uma aventura, uma batalha contra os elementos.
A estrada, em dias secos, é uma via rápida para o progresso, uma conexão vital para o comércio e a vida cotidiana. Mas nas chuvas, ela se transforma em uma barreira quase intransponível. As crianças que precisam ir à escola, os trabalhadores que dependem da estrada para chegar aos seus empregos, e os agricultores que levam seus produtos ao mercado, todos se veem à mercê da imprevisibilidade do clima.
Há histórias de solidariedade, de caminhoneiros que param para ajudar colegas desconhecidos, de moradores que improvisam passagens e pontes com troncos e pedras. As comunidades se unem, pois sabem que só a coletividade pode vencer a adversidade. A lama que prende também une, criando laços de amizade e companheirismo entre aqueles que compartilham dessa luta diária.
A Transamazônica, com seus atoleiros e dificuldades, é mais do que uma estrada. É um reflexo da vida na Amazônia, um microcosmo de luta e perseverança. Os moradores com sua coragem e determinação, enfrentam os desafios de cada estação com a certeza de que, após a tempestade, sempre vem a calmaria.
Felix Chaves
Enviado por Felix Chaves em 04/07/2024
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