FIOS BRANCOS
Há alguns anos, quando de cabelos pretos , eu costumava observar meu pai penteando seus fios brancos . Ele o fazia com um cuidado reverente, como se cada fio de cabelo fosse um troféu conquistado ao longo dos anos. Na época, eu não entendia muito bem o significado daquele ritual diário, mas hoje, ao me olhar no espelho e ver os sinais da "tinta branca dos anos", começo a compreender a sua sabedoria .
O tempo é um artista caprichoso. Quando jovem
ele nos pinta com cores vibrantes e nos fazendo acreditar na juventude eterna,
muitas vezes fazendo você esquecer que, em algum momento, a paleta de cores começará a mudar.
Não pensamos na velhice, assim como eu não pensava correndo pelos corredores da casa do meu pai , acreditando que o mundo era infinito e o tempo, generoso.
Mas o tempo, esse velho brincalhão, chega para todos.
Sem avisar, um dia, você acorda e lá está, a primeira mecha branca, sutil, quase tímida, mas impossível de ignorar.
O fantasma da velhice sussurra em seu ouvido que os tempos dourados estão se afastando, e uma sensação de nostalgia inevitável começa a tomar conta de você.
Lembro-me de uma manhã específica em uma loja,
olhei para as prateleiras e vi as diversas tintas de cabelo, promessas de juventude eterna , embaladas em pequenas caixas. Por um momento, considerei levar uma, mas então a lembrança do meu pai me parou. A dignidade com que ele carregava seus fios brancos era algo que eu queria para mim.
Vivemos em um mundo onde a aparência jovem é celebrada e o envelhecimento, muitas vezes, é visto como uma falha a ser corrigida. As tintas artificiais, os cremes antienvelhecimento, as cirurgias plásticas são tentativas desesperadas de nos agarrarmos a um passado que já não nos pertence. Mas a verdade é que cada ruga, cada fio branco, conta uma história. Eles são marcas de batalhas vencidas, de amores vividos, de tristezas superadas e de uma vida vivida.
Agora, quando vejo meu reflexo, tento encarar meus cabelos brancos com a mesma reverência .Eles são um lembrete de que o tempo passa, sim, mas também que ele deixa sua marca em nós de maneiras profundas e significativas. E, ao invés de lutar contra ele, talvez devêssemos acolher o envelhecimento como uma prova de nossa jornada.
A tinta branca dos anos é uma cor que não desbota, permanece eternamente. Ela nos lembra que, apesar de tudo, continuamos aqui, vivendo e aprendendo. E se há algo que o tempo me ensinou, é que a verdadeira beleza não está em esconder os sinais do envelhecimento, mas em abraçá-los com dignidade e orgulho .
E assim, sigo penteando meus cabelos brancos, não com tristeza, mas com a serenidade de quem entende que cada fio é uma pequena amostra
da grande maratona da vida.
Felix Chaves
Enviado por Felix Chaves em 29/05/2024